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O que tem a ver saúde mental, a segurança psicológica e o etarismo no trabalho?
Somos o país com mais pessoas ansiosas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9% da população brasileira sofre com esse problema, enquanto 15% passam ou vão passar por algum episódio de depressão ao longo da vida.
Impossível deixarmos de pensar como índices tão elevados se relacionam com as condições de trabalho.
Pois bem: 90% dos trabalhadores brasileiros afirmam que seus trabalhos causam algum nível de estresse, enquanto 63% dizem que sofreram pelo menos uma crise emocional no último semestre, segundo a pesquisa Saúde Mental no Trabalho 2023, da Think Work.
Além disso:
- 38% afirmam que o nível de estresse aumentou, enquanto para 33% permaneceu o mesmo;
- 72% relatam tanto ou mais dores no corpo do que um ano atrás;
- 39% sentem maior cansaço;
- 32% afirmam que a irritação e a ansiedade aumentaram.
Uma liderança experiente faz toda a diferença
Anos de trabalho me ensinaram que o clima organizacional tem muito a ver com o tom que as lideranças dão no dia a dia. Afinal, são os líderes os responsáveis por traduzir e transmitir para as equipes a segurança psicológica, incorporada à cultura e estratégia na empresa.
Uma liderança mais sênior está mais preparada para uma “tradução” mais assertiva: gestores com mais anos de carreira já tiveram um processo de amadurecimento prático ao longo do tempo e dos dois lados, tanto na pele de líderes como de liderados.
Apesar de compor uma equipe, cada colaborador é único, com suas singularidades, história de vida, dores e experiências pessoais. Para ser um bom líder é preciso entender essa singularidade, ter paciência, sensibilidade e empatia para olhar com atenção cada um dos seres humanos que compõem um time.
Não é uma regra, mas geralmente o líder maduro está mais preparado para esse olhar e para fazer uma leitura mais rápida de seus liderados: quanto mais experiente, maior a facilidade para observar, perceber que algo está acontecendo e que aquela pessoa não está bem.
As lideranças jovens têm potencial para esse comportamento, mas precisam ser desenvolvidas para tanto. Não é um processo da noite para o dia, vem com o tempo, com a prática real. As empresas têm que estar cientes dessa problemática que precisa ser enfrentada, e tentar fazer um processo de desenvolvimento inclusive com o apoio de líderes mais sêniores.
Ao longo de minha carreira fui aprendendo a usar algumas ferramentas que ajudam bastante a perceber quando um colaborador passa por uma crise de saúde mental e a saber como agir:
1 – Olhar apreciativo
Observar para além do momento presente. É conseguir ler nas entrelinhas das situações o motivo para aquele comportamento, sem julgamentos.
Essa é uma habilidade importante para uma liderança não apenas em termos de gestão e produtividade, mas para poder ajudar, encaminhar para algum suporte especializado se necessário, estimar com que dose de esforço a pessoa vai poder produzir. Lembrar que a diversidade é importante e deve ser respeitada.
Cada pessoa tem um grau diferente de sensibilidade e maturidade, assim como uma possibilidade própria de dedicação naquele momento. Se o líder tem empatia e fica sabendo de um problema pessoal enfrentado por um liderado, talvez seja o caso de repensar as atividades daquela pessoa para que ela tenha um tempo para se recuperar ou para ajudar um familiar que esteja com problemas, se este for o caso.
2 – Confiança
Saber desenvolver um relacionamento, criar um canal de comunicação e transmitir confiança ao colaborador para que se sinta seguro e converse com o líder quando precisar.
3 – Escuta ativa
É preciso estar disposto a ouvir com muita atenção quando uma pessoa vier conversar. Trata-se de escutar muito mais do que falar, tentando entender como ajudar a pessoa no dia a dia com o cuidado de não misturar o lado profissional com o pessoal.
A maturidade é importante para dosar esses limites sem ser desumano ou faltar com empatia, e conseguir dar uma assistência dentro do que compete ao líder. Se possível, captar informações e percepções de outros colegas da equipe para construir uma rede de apoio para essa pessoa.
Tudo isso sempre dentro dos limites do trabalho, sem invadir a privacidade desse colaborador.
4 – Acompanhamento
Monitorar como essas situações estão interferindo no trabalho, como estão caminhando, e conversar com a pessoa com frequência. A saúde mental pode trazer questões muito delicadas como depressão e suicídio, principalmente entre jovens.
Portanto, quem lidera equipe jovens precisa estar bastante atento a esses sinais, e recorrer à área de Recursos Humanos da empresa para buscar ajuda especializada, se necessário.
Ambição x responsabilidade
Os jovens naturalmente têm sede de crescimento profissional, desejam ocupar cargos cada vez mais altos, ao passo que as organizações com frequência deixam de contratar ou de manter pessoas mais experientes em seus times.
O crescimento muito rápido e sem experiência pode, sim, ser um problema enorme tanto para os jovens, que muitas vezes não têm ferramentas para dar conta de tamanha responsabilidade, quanto para uma empresa.
Ao nomearem para a liderança profissionais que não estão preparados para cuidar de outras pessoas, organizações podem, sim, estar colocando em risco não apenas a saúde do negócio, mas a saúde mental de seus colaboradores.
Baixa produtividade, perda de talentos, índices altos de turnover e um número elevado de afastamentos, gerando ciclos com questões mal resolvidas de saúde mental, são apenas algumas das consequências de lideranças pouco preparadas.
Com tudo isso, quem perde é a empresa. Portanto, identificar limites e responsabilidades, bem como reconhecer os benefícios que a experiência profissional e de vida de um líder podem trazer, são atitudes essenciais para garantir uma cultura mais humana e inclusiva, capaz de trazer mais sustentabilidade para uma organização.
Fernanda Toledo
Como CEO da Intelligente Consult, dedico-me a criar soluções estratégicas que estabeleçam uma conexão genuína entre empresas e causas socioambientais. Com uma trajetória profissional robusta, incluindo gestão executiva na Fundação Alphaville e Alphaville Urbanismo, meu foco está em impulsionar a sustentabilidade ambiental e a inovação social como pilares fundamentais para o crescimento corporativo e o progresso comunitário.