O Papel do Comprador em um Mundo: “Made in China”!

O Papel do Comprador em um Mundo: “Made in China”!

Se pudéssemos elencar hoje quais seriam as competências mais importantes para um profissional moderno no setor de compras poderíamos destacar por exemplo: a capacidade analítica, a atenção aos detalhes, o conhecimento da atividade em que se desempenha o papel de compras, a visão estratégica e por ai vai.

Estas entre estão entre outras qualificações que podemos encontrar facilmente ao alcance do click de um mouse.

Porém aqui quero fazer uma provocação, e destacar também não somente o que é trivial quando pensamos em uma posição de comprador:

A indispensável capacidade de enxergar o todo ao seu redor.

Fazendo uma correlação com o setor de energia encontramos algumas respostas. O setor se estabeleceu por sua alta complexidade de atividades e estas características impõem sobre seus profissionais o desafio contínuo de se estar em constante aperfeiçoamento. Este fato é notoriamente observado no profissional de compras que estão cada vez mais influenciados a desenvolver o seu ”awareness”, ou seja, sua capacidade percepção em uma situação ou fato.

Estas observações não são novas, e estão inseridas em todas as organizações não importa o tamanho. Nelas sabemos que passam os fluxos decisórios e aonde boa parte da sua competitividade acaba sendo influenciada pela eficiência do departamento de compras, como ferramenta de suporte de estratégia, ou mesmo de sua sobrevivência.

Nesse cenário faço um convite para que a gente olhe para um contexto conhecido que é o papel desse gigante Internacional do consumo que é a China.

Porém por que olhar a China sobre uma ótica de estratégia de compras?

Existem vários aspectos, mas antes vamos construir a nossa reflexão.

Como eu costumo a dizer para os meus colegas:  Vamos pensar juntos?

Não é surpresa para ninguém que quando observamos o cenário macroeconômico no Brasil fica difícil não comentar em algum momento, se em algum insumo, ou em alguma atividade não teremos produtos e serviços, que em algum período de sua cadeia produtiva, não tiveram integral ou parte dela fornecida a partir do gigante asiático.

Também não é necessário que ressaltemos as obviedades no que diz respeito ao que a China representa hoje no mundo. Contudo, é sempre importante situar o que compreendemos disso tudo.

Recentemente foram divulgados por exemplo o resultado do terceiro trimestre de crescimento econômico da economia Chinesa.

Os números impressionam, pois, demonstram que a economia avançou quase 20% segundo a comparação ao mesmo período do ano anterior.

Claro que boa parte desse resultado tem a ver com o fato de que a comparação é feita quando no ano passado as atividades no gigante asiático haviam sido seriamente comprometidas em função do pico da pandemia.

Porém, e sem entrar aqui em detalhes quanto a postura da China durante a pandemia, fica claro que a capacidade de geração de valor enorme extremamente rápida está associada com o fato de que a atividade chinesa pense baseado na rápida abertura do mercado e pela volta das exportações e importações.

Em seu famoso livro, Factfullness(O habito libertador de so ter opiniões baseadas em fatos), Hans Rosling faz uma brilhante dissertação mencionando a necessidade de termos dados informações que nos permitam uma visão mais ampla das atividades e das conclusões que chegamos:

“o mundo não pode ser compreendido sem números, porém não somente a partir deles”

“The world cannot be understood without numbers, nor through numbers alone” Hans Rosling.

Observar os números da China não é uma tarefa difícil para quem tem o Google ao alcance das mãos.

Contudo a observação feita pelo Hans na verdade é uma provocação pois nos acostumamos quase sempre a construir os caminhos de entendimento de determinado assunto com um mínimo de informação que temos sobre ele.

O caso da China é um caso emblemático, afinal, falar sobre a China é falar sobre os seus números sempre volutuosos

No caso do Brasil o ponto que quero destacar é o efeito China, se assim posso me referir, por exemplo, na nossa balança comercial.

E entender o efeito da balança comercial é também compreender o nível de saúde da economia brasileira no que diz respeito a geração de valor para aquilo que exportamos.

Não estou aqui diminuindo o mercado local afinal todos sabemos que nossa economia é gerada a partir de consumo, e quase sempre consumo familiar.

Porém mesmo o consumo familiar de bens e serviços é afetado por esse efeito de Balanço entre oferta e demanda.

Em 2020 o Brasil teve um superávit positivo na balança comercial com a China, o que significa que exportamos mais do que importamos.

Mas o que importamos no último ano?

Sabemos que em termos de importação, segundo dados coletados pelo Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços, tivemos um volume considerável e com destaque o desempenho da indústria naval com estruturas submarinas que representaram quase 1.8 bilhões de dólares (Segundo lugar nas importações) somente com plataformas e embarcações entre janeiro e outubro de 2020.

A lista é longa e a imagem que fica é que precisamos conhecer cada vez mais os “drivers” de decisão no mercado de bens e serviços global.

O papel da China mudou o centro de massa das cadeias de supply chain a nível global empurrando boa parte da procura por insumos, produtos semiacabados e hoje também produtos de alta tecnologia provenientes do mercado asiático.

E o papel do comprador neste mundo “made in china”?

A compreensão desses movimentos não precisa ser densa basta apenas observar o que acontece quando uma economia de alto nível de consumo tem a sua demanda prejudicada.

A baixa atividade chinesa colocou o mundo sobre parafuso durante boa parte de 2020 muito antes das atividades de restrição terem desacelerado o consumo em outras partes do mundo.

O Preço de petróleo caiu a níveis abaixo de 15 USD por barril (Brent), ou mesmo as referências também do barril de petróleo equivalente na bolsa de Nova Iorque chegaram a apontar níveis negativos.

Os níveis de insegurança dos mercados legais se elevaram, moedas no mundo inteiro se desvalorizaram incluindo o dólar. No Brasil conseguimos o efeito de ter uma desvalorização acumulada beirando os 10% ficando atrás apenas da libra sudanesa segundo dados da CNN.

O REAL tem sido destacado pela agência de dados da Reuters com a moeda que mais se desvalorizou em 2020 gerando uma incrível consequência de uma alta nos valores de dólar convertidos em real acima de 40% em média durante todo o ano de 2020.

O efeito é dominó em uma economia de alto grau de interdependência não é eufemismo dizer que um espirro na China é um resfriado em economias como o Brasil.

Não somos os únicos, nem mesmo seremos os últimos, mas uma economia como a nossa que depende de consumo e onde as atividades industriais são altamente oneradas, seja pelo alto grau de tributação seja pelo alto nível de burocracia, não me parece surpresa de que estar com os olhos atentos para o Oriente tenha se tornado pré-requisito fundamental.

Gosto muito de pensar que às vezes eu pego pelo excesso em pensar nos números é um papel que o profissional de compras tem por ofício.

Eu por exemplo sou filho de uma economista. Minha mãe desde cedo sempre me chamou a atenção pelo valor das coisas e pela escassez dos recursos.

Um comprador eficiente sabe quando olhar para a Lua para saber se vai chover, sabe olhar para o mar nos confins do horizonte para saber para onde apontar as velas.

Esse conhecimento não chega no instalar de dedos e a construído durante anos às vezes até moldados pela atividade fim subia qual o comprador é apenas uma importante engrenagem.

Seja como for compreender o contexto sobre o qual vivemos sobre um ponto de vista económico não é uma tarefa complexa, ela é sim, demandante.

Simplesmente porque exige de nós uma disciplina que não vem com manual de instrução: a curiosidade.

A curiosidade nos faz perguntar o que não sabemos. É ela que nos enche de coragem para levantar a mão e falar, ainda que para nós mesmos: eu não sei tudo sobre isso!

O exemplo hoje foi a China, porque todo mundo sabe onde a China está.

Porém, poderia ser outro! qual é o contexto em que você comprador está inserido dentro da sua atividade fim?

Qual é a sua contribuição para a estratégia da atividade que a sua empresa faz?

Qual é a sua China? qual é o driver que empurra o resultado da organização sobre a qual você presta os seus nobres serviços?

Não é pegadinha!

Faz tempo em que não lembro de ter pegado quase nada pré-fabricado, seja um óculo, uma caneta, um equipamento de alta tecnologia, um insumo que não tenha em algum lugar aquelas 3 palavrinhas mágicas:

“Made in China!”

Pensa comigo… não é por acaso e muito menos um chavão. não nos surpreendemos mais com isso porque nós interiorizamos que não faz mais diferença de onde as coisas que usamos vem.

E aí que mora o alerta. um comprador eficiente sabe muito bem por que as coisas são o que são hoje, afinal nada é por acaso, e a China não é exceção.

E prova.

Boas reflexões.

 

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