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Como garantir a otimização de estoques
A política de estoques da empresa está diretamente atrelada a sua estratégia de negócios.
Portanto, em primeiro lugar, é preciso entender a expectativa dos seus clientes em relação aos prazos de entrega e como a empresa irá se posicionar para atendê-los, esteja ela no mercado B2C, B2B2C ou B2B.
O B2C e B2B2C são mais sensíveis aos prazos de entrega e existe uma concorrência muito forte para ser reconhecida como a empresa que entrega mais rápido.
Isso significa que varejistas, por exemplo, precisam estar mais próximos dos consumidores, aumentando assim os seus pontos de distribuição e consequentemente o investimento em estoques.
Já o B2B, dependendo do mercado, pode trabalhar com maiores prazos de entrega ou até no modelo sob encomenda, reduzindo a necessidade de pontos de estocagem e estoques de segurança, o que ajuda nos níveis e necessidade de investimentos em estoques.
Independentemente do mercado, o controle de estoques é essencial para a saúde financeira da empresa. Por um lado, os estoques são ativos, é um investimento que só vira resultado quando vendido ou utilizado na prestação de serviços.
Isso significa que o estoque sobrando é dinheiro parado e ninguém gosta de aplicar recursos em algo que não dá retorno.
Por outro lado, a empresa precisa honrar o pagamento a seus fornecedores. Assim, quanto mais compra insumos ou mercadorias, maior a sua necessidade de capital de giro para cumprir com esses pagamentos.
Pagar por algo que não se irá utilizar tão cedo definitivamente não é bem vindo.
A fim de impactar de forma positiva os resultados da empresa como um todo, precisamos ter um cuidado especial com os níveis de estoque e isso requer um olhar mais amplo.
A otimização de estoques demanda uma série de análises de trade-offs, portanto não deve ser feita de forma isolada.
Estoques podem ser reduzidos a qualquer momento, mas para otimizá-los e não prejudicar o próprio negócio da empresa, é preciso levar em conta um conjunto de fatores.
Coloco abaixo 7 principais aspectos e trade-offs que uma vez compreendidos, avaliados e administrados, levarão a níveis de estoques otimizados:
1 – Nível de serviço
Qual o nível de serviço aceitável para seus clientes? Quanto maior o nível de serviço, maior o nível de estoque.
Ter estoque para um atendimento imediato de 100% para tudo é irrealizável. Importante esse entendimento e conhecimento dentro da organização para evitar surpresas. Estoques são limitados.
2 – Previsão de vendas
Qual o grau de importância dada à previsão de vendas dentro da empresa? Existe comprometimento da alta liderança da organização com um processo claro e transparente?
Quanto maior a variação entre previsão e demanda, maior a necessidade de cobrir essa variação com estoques de segurança.
Aceitar que a previsão é ruim não deve ser alternativa. É preciso sair da zona de conforto e buscar caminhos para melhorar o processo.
3 – Performance de fornecedor
Existe um acompanhamento em relação às entregas dos fornecedores para garantir que tanto os volumes quanto os prazos de entrega sejam continuamente cumpridos?
A variabilidade nas entregas impacta diretamente a necessidade de manter estoques maiores para evitar rupturas. Portanto, o monitoramento do desempenho dos fornecedores com as devidas ações corretivas é parte fundamental do processo de gestão de estoques da empresa.
4 – Investimento em estoques vs Capex/Opex
Quanto maior o volume de estoque, maior a necessidade de espaço para armazená-lo. Se existe essa real demanda por estoques, a empresa precisa avaliar se irá investir em ampliação de armazém / ponto de distribuição (Capex) ou se irá terceirizar (Opex).
Além disso, quanto mais pontos de estoque, maior o controle necessário.
Outro aspecto é que pode ser financeiramente mais vantajoso investir em vários pequenos pontos de distribuição do que em grandes CDs. É uma estratégia que irá impactar diretamente o nível de estoques.
5 – Just-in-time vs Just-in-case
É possível diminuir o investimento em estoque através de parcerias com fornecedores estratégicos para implementação de VMI ou consignação?
Quanto maior a possibilidade de utilização dessas estratégias (just-in-time), menor a necessidade de estoques (just-in-case).
Outros modelos a serem verificados, alinhados ao just-in-time, são as estratégias de utilizar o postponement e a demanda puxada.
O postponement permite manter um produto semi-acabado em estoque, para que seja finalizado apenas após o recebimento do pedido do cliente, como em casos em que o produto é o mesmo, mas só muda a cor.
O produto semiacabado pode ficar à espera desse último processo produtivo mediante pedido, reduzindo a necessidade de estoques do produto final em várias cores, sem saber exatamente o que o cliente irá pedir.
Já a demanda puxada ocorre quando o produto é fabricado por completo mediante pedido (sob encomenda). Geralmente utilizado para produtos com muita variação de demanda e volumes baixos.
Nesses casos, a previsão de vendas serve apenas para a compra dos insumos e não para determinar o nível de estoque do produto acabado. Esse será produzido mediante a real demanda e não conforme previsão de vendas.
Caso o desejo da empresa seja atender a previsão, o modelo puxado não se aplica.
6 – Fornecedores vs lead times
Os prazos de fornecimento são cruciais para os níveis de estoque. Como reduzir esses prazos?
Existe colaboração entre a empresa e parceiros para que as informações sejam trocadas de forma a integrar esses fornecedores?
É possível desenvolver fornecedores regionais ao invés de globais, por exemplo?
Lead times reduzidos impactam positivamente os estoques. É questão de avaliar todos os fatores envolvidos e analisar esses trade-offs.
7 – Inventário físico vs sistêmico
Acuracidade de estoque é essencial. Inventários cíclicos ajudam a melhorar o controle de inventário e são simples de realizar, além de facilitarem a realização do inventário geral.
Automatizações nos inventários também são oportunidades para garantir melhor acuracidade e velocidade do processo.
Quanto maior o grau de confiança do inventário físico vs sistêmico, menor a necessidade de estoques adicionais.
Outros pontos de controle importantes e diretamente ligados aos itens acima são o giro dos estoques, gestão dos itens em excesso e morosos para evitar descartes, além da sanitização dos SKUs.
Sem deixar de mencionar a relevância de processos robustos e sistemas informatizados para realizar todas essas atividades, pontos chave para a gestão e otimização dos estoques.
Em função dos impactos nos resultados financeiros da empresa, seja via atendimento ao cliente garantindo a venda do produto ou serviço ou em termos contábeis, o controle de estoques é e sempre será tema recorrente e crítico.
Importante ter clareza desses impactos e estabelecer modelos de abastecimento coerentes, alinhados às expectativas e estratégia da organização, com todos os envolvidos na mesma página, comprometidos com o processo e com os resultados.
Mais de 15 anos em cargos de Gestão na área de Supply Chain & Procurement em empresas multinacionais e nacionais de grande porte em posições regionais com destaque para os segmentos Farmacêutico, Serviços Logísticos, Produtos têxteis, Químico, Telecomunicações e Educação.
Muito bom!
Nosso grande desafio é garantir o abastecimento no melhor custo-efetivo. Saindo de uma pandemia, onde o relacionamento com os fornecedores e estoques conservadores fizeram a diferença, nada simples equilibrar o que devemos ter para não desabastecer e o que devemos confiar que o mercado tenha de forma rápida consiga nos abastecer…